sábado, 28 de março de 2009

danse macabre

"A Morte afina então sua rabeca e começa a tocar. Os mortos erguem-se das sepulturas e dançam com movimentos grotescos, com os ossos sacudindo e chacoalhando, como o xilofone deixa claro. O ritmo se acelera e a dança torna-se cada vez mais selvagem e febril. De repente, o galo canta o amanhecer. Os mortos voltam para suas sepulturas e a Morte guarda sua rebeca.

quarta-feira, 18 de março de 2009

O Boa Morte e Eu.



A hora é absurda em uma madrugada ensolarada. Acordei, pois meu gêmeo solfejava sua voz de baritono na cama acima da minha. A casa estava toda iluminada as 3:31 da manhã. Acordei com a lembrança de que a porta principal estava destrancada e era meu dever trancá-la. Era manhã em minha casa e alta madrugada na rua. Quando olhei a porta, tive aqueles agoiros que se tem antes ao perigo certo. Fingi não ligar para aquele presságio. Antes de tracar a porta eu a abri. Assustei-me com a figura na porta. Parecia Césare, o sonâmbulo de "O gabinete do doutor Caligare". Ele estava parado. Seus olhos estavam fechados que abriram com minha presença, eram grandes e esbulhados com olheiras colossais. Homem de pele amarelada e enrrugada, apesar de sua pouca idade, em suas mãos grandes e pálidas segurava firmemente uma pistola estilizada. Dizem que ele mesmo a desenhou e construiu. Eu sabia quem ele era e o que viera fazer. Tentei fechar a porta e fingir que aquilo não havia acontecido. Apesar do meu esforço, ele era mais forte que eu. Adentrou a casa já engatilhando a arma e colocando em minha têmpora direita. Então, um gosto amargo adentrou a minha boca e não saiu. Para ter certeza que era eu sua vítima, tocou-me a testa com seus dedos longos e gélidos e uma luz debroçou sobre mim revelando a marca do Culto do qual faço parte.
"eu sou apenas um iniciado o que tu podes querer comigo?"
Pensei para que ele ouvisse, mas não houve respostas.
"devo ter irritado alguém importante realmente para te enviarem ao meu incalço, não?"
A reposta que ouvi foi o engatilhar da arma.
Com uma voz rouca e fraquíssima eu disse: -Não posso morrer sem dizer algo a uma pessoa antes!
Então pensei no amor de minha vida e lhe enviei minha declaração de amor (P.S: eu te amo).
Após isso, embebido em coragem, disse: -Não permitirei que alguém tire a minha vida desta forma. Tenho uma proposta: Roleta Russa!
Ele não tinha expressão em seu rosto. Peguei a pistola de sua mão e rolei o tambor me recriminando por dentro,
"estas louco homem tu vais jogar roleta russa com um cara que é chamado de O Boa Morte o maior manipulador de propabilidades que já se ouviu falar dizem que ele nunca errou um tiro na vida".
Fechei os olhos, respirei corretamente, abri os olhos e apertei o gatilho. Boa Morte estava extaseado. Em meus pensamentos apenas sossego e tranquilidade.
Boa Morte sorriu e disse:
- Parece que o jogo não acaba aqui para ti, rapazinho. - Seu ato seguinte foi fazer o tambor dançar e atirar contra a cabeça.
- Parece que eu também continuo na dança da grande roda que nunca para de girar.
Não pude me conter e falei demais para variar: - Acho que as tuas balas acabaram, isso sim. - Eu sabia que havia quatorze lugares para balas dos quais treze estavam preenchidos.
Sua resposta foi um "talvez sim, talvez não" desprocupado.
- Bon pracer per ti. - eu disse.
O asco quase pula de seu corpo para me atacar. Percebi que ele não entendeu o que eu disse, e expliquei-lhe:
- Agora somos nós que o observamos.
- Até parece.
- Sim, é a nossa vez. Estamos de olho em ti, ande com cuidado por aí.
Ele virou-se de costas e saiu de minha casa sem mais nada dizer.
Eu por minha vez me repreendia: -Tu tinhas de dar uma de macho alfa no final, né? Foda-se! Tu já dissestes mesmo, então aguenta o tranco, fresquinho.
Tranquei bem a porta e fui escovar os dentes para ver se sumia aquele gosto amargo de minha boca.



domingo, 8 de março de 2009

Invisible Guy

Triste o rapaz que ficou invisível tempo demais, e quando quis sair do seu exílio não pode ser visto mais. Esse rapaz invisível nasceu, morreu e renasceu no que sempre foi: Um gato no cio querendo lamber as próprias bolas.
Anima-se dizendo para si mesmo em um sorriso amarelo:
- Serei como um gato no cio, andando por ai procurando aventuras perigosas nas madrugadas escuras e chuvosa, já que perdi a melhor coisa da minha vida e o mundo desmoronou sobre mim. Ao menos sai intacto e ainda ando equilibrado, não sangrei, mas fui eu que saiu machucado, apenas eu. É tão triste saber que as coisas nunca mais serão as mesmas. Outravez será apenas eu e eu. Se morri é hora de renascer, erguer asas e voar.
Não mendigarei afecto, atenção, não aceitarei ser a ultima opção, prefiro ser odiado a ser desprezado.
O engraçado foi que sai do palco e nem perceberam. Prelo que paguei por ser invisível, preço pago por ser um d'us: intocável, inalcansavel, irrepreensivel, sem culpa e sem arrependimentos. Fui tempo demais.
Antes de conhecer aqueles olhos eu nunca havia me magoado, me decepcionado, quando eu me sentia triste eu me bastava, agora sei o que é a dor da solidão, sei o que é ser humano, é doí ser humano, pois a única pessoa que amei, amei como a mimesmo. Descobri quão doce é o amor, e quão amargo ele pode se tornar, não suportei a a amargura do meu.
Hoje eu repito o tempo todo: -Não fico carente eu me basto. Quem ama a si mesmo não sofre com desprezo.
Triste invisivel rapaz que resolveu mudar voltando a ser o que sempre foi.