
A hora é absurda em uma madrugada ensolarada. Acordei, pois meu gêmeo solfejava sua voz de baritono na cama acima da minha. A casa estava toda iluminada as 3:31 da manhã. Acordei com a lembrança de que a porta principal estava destrancada e era meu dever trancá-la. Era manhã em minha casa e alta madrugada na rua. Quando olhei a porta, tive aqueles agoiros que se tem antes ao perigo certo. Fingi não ligar para aquele presságio. Antes de tracar a porta eu a abri. Assustei-me com a figura na porta. Parecia Césare, o sonâmbulo de "O gabinete do doutor Caligare". Ele estava parado. Seus olhos estavam fechados que abriram com minha presença, eram grandes e esbulhados com olheiras colossais. Homem de pele amarelada e enrrugada, apesar de sua pouca idade, em suas mãos grandes e pálidas segurava firmemente uma pistola estilizada. Dizem que ele mesmo a desenhou e construiu. Eu sabia quem ele era e o que viera fazer. Tentei fechar a porta e fingir que aquilo não havia acontecido. Apesar do meu esforço, ele era mais forte que eu. Adentrou a casa já engatilhando a arma e colocando em minha têmpora direita. Então, um gosto amargo adentrou a minha boca e não saiu. Para ter certeza que era eu sua vítima, tocou-me a testa com seus dedos longos e gélidos e uma luz debroçou sobre mim revelando a marca do Culto do qual faço parte.
"eu sou apenas um iniciado o que tu podes querer comigo?"
Pensei para que ele ouvisse, mas não houve respostas.
"devo ter irritado alguém importante realmente para te enviarem ao meu incalço, não?"
A reposta que ouvi foi o engatilhar da arma.
Com uma voz rouca e fraquíssima eu disse: -Não posso morrer sem dizer algo a uma pessoa antes!
Então pensei no amor de minha vida e lhe enviei minha declaração de amor (P.S: eu te amo).
Após isso, embebido em coragem, disse: -Não permitirei que alguém tire a minha vida desta forma. Tenho uma proposta: Roleta Russa!
Ele não tinha expressão em seu rosto. Peguei a pistola de sua mão e rolei o tambor me recriminando por dentro,
"estas louco homem tu vais jogar roleta russa com um cara que é chamado de O Boa Morte o maior manipulador de propabilidades que já se ouviu falar dizem que ele nunca errou um tiro na vida".
Fechei os olhos, respirei corretamente, abri os olhos e apertei o gatilho. Boa Morte estava extaseado. Em meus pensamentos apenas sossego e tranquilidade.
Boa Morte sorriu e disse:
- Parece que o jogo não acaba aqui para ti, rapazinho. - Seu ato seguinte foi fazer o tambor dançar e atirar contra a cabeça.
- Parece que eu também continuo na dança da grande roda que nunca para de girar.
Não pude me conter e falei demais para variar: - Acho que as tuas balas acabaram, isso sim. - Eu sabia que havia quatorze lugares para balas dos quais treze estavam preenchidos.
Sua resposta foi um "talvez sim, talvez não" desprocupado.
- Bon pracer per ti. - eu disse.
O asco quase pula de seu corpo para me atacar. Percebi que ele não entendeu o que eu disse, e expliquei-lhe:
- Agora somos nós que o observamos.
- Até parece.
- Sim, é a nossa vez. Estamos de olho em ti, ande com cuidado por aí.
Ele virou-se de costas e saiu de minha casa sem mais nada dizer.
Eu por minha vez me repreendia: -Tu tinhas de dar uma de macho alfa no final, né? Foda-se! Tu já dissestes mesmo, então aguenta o tranco, fresquinho.
Tranquei bem a porta e fui escovar os dentes para ver se sumia aquele gosto amargo de minha boca.
7 comentários:
Um dia esvrevo um livro de contos: De meninas estranhas e garrotinhos esquisitos, ai coloco esse sonho que virou conto.
meu bem, enfim dormimos juntos... espero que o gosto da manhã ao acordar comigo tenha sido mais saboroso que este que te fez levantar o corpo em outras horas.
esse texto será lido muitas vezes por minha língua para eu realmente entender a agua que brotou aqui dentro. e qual seu gosto.
um beijo onde outrora bateu um cano gelado.
Achei bem dark!
Um abração!
Obrigado pela visita.
Contos dark sempre me dão sede, rsrs
olá. gostei.
vou acompanhar o seu blog.
e obrigado pela visita.
volte sempre.
sorte e luz.
Estou gostando de ver.
Textos e mais textos aqui.
Bom ler tua palavra, meu caro.
E sonhos são tão reais...
Abraço forte.
Continuemos...
Uou! Deveras estranho esse tal Boa Morte. Terminei de ler e pensei: também não foi minha vez.
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